fevereiro 07, 2013

Boas Práticas

A força da união


Para combater a evasão escolar, o Colégio Odorico Leocádio da Rosa, de Rondonópolis (MT), investiu na consulta aos pais e alunos para melhorar a escola e na conscientização sobre a importância da frequência


Samantha Costa

Para melhorar a frequência dos alunos, escola investiu na participação dos pais e em projetos que atraíssem os estudantes
Ao valorizar a participação dos pais, conscientizá-los sobre a importância da assiduidade de seus filhos às aulas e consultá-los sobre a escola e os projetos desenvolvidos, o Colégio Estadual de Ensino Fundamental Odorico Leocádio da Rosa, em Rondonópolis (MT), conseguiu melhorar a frequência de seus alunos. Com índices altos de evasão escolar que chegaram ao recorde mais baixo ao final do ano de 2008, de 20%, a escola adotou um plano de ação em conjunto com o poder público, pais, alunos e funcionários para reverter o quadro. A medida, além de diminuir a ausência dos alunos, tornou a escola uma das melhores do estado. Hoje, o Odorico Leocádio tem o segundo melhor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) estadual e também figura entre os melhores na comparação nacional. Dos 1.050 alunos que estudam na escola, 70% são de baixa renda. A maioria deles é formada por filhos de caminhoneiros e, frequentemente, as faltas longas - de uma a duas semanas por mês - eram justificadas pelas viagens dos pais que levavam os alunos como acompanhantes. "Quando um aluno falta, tem sempre um adulto por trás que é conivente com isso", explica Marisa Cruvinel, diretora da escola. "Tivemos de começar a ensinar aos pais a importância da escola", completa.
Reverter o quadro começou com a elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) e, na sequência, a reformulação do regimento da escola. Com regras mais rígidas para pais e alunos - validadas pela Promotoria Pública - a escola passou a encaminhar para acompanhamento do Conselho Tutelar todo aluno que falta mais de três vezes sem justificativa, incluindo as viagens longas. "Quando um aluno falta, ligamos na casa, no celular dos pais para saber o motivo da ausência. Se o aluno ficou doente, cobramos o atestado. Caso contrário, chamamos os pais para conversar, explicamos a importância da presença da criança para acompanhar o conteúdo. Ao final, fazemos uma ata, que é assinada por todos os presentes. Só essa formalidade já deixa os pais mais atentos. Ninguém quer chegar no estágio do Conselho Tutelar", explica Maria Aparecida Reis, coordenadora dos primeiros anos do ensino fundamental da escola.
No processo de convencimento dos pais para a importância da presença de seus filhos em aula, a equipe pedagógica analisa a situação da família e conta sempre com o bom-senso. As famílias são entrevistadas no ato da matrícula, anual, quando recebem o regimento da escola e são informadas sobre a rigidez exigida. Conselho Tutelar só em último caso. "São questões delicadas, sabemos que quando um pai leva um filho para uma viagem de caminhão está pensando no melhor para a criança. Aí entra o nosso trabalho constante: explicar para cada família que tão importante quanto o convívio com os pais é a presença na escola", conta a diretora.
Plano de ação
A equipe da escola teve bastante trabalho para formular as novas regras - que vão desde a exigência do uniforme até o encaminhamento da família ao Conselho Tutelar em caso de faltas não justificadas - e aplicar o novo regimento. No início, a administração da escola foi criticada e houve resistência de alguns pais. Contudo, ao avaliarem os resultados obtidos na educação dos filhos, passaram a apoiar e incentivar os métodos da escola. "Fomos criticados, mas não esmorecemos. Os pais responderam aos estímulos da escola, se tornaram mais presentes. Frequentam as reuniões e escolhem a nossa escola por ser boa e por ter regras que são efetivamente cumpridas", explica Maria Aparecida. Assim como acontece com os alunos, a frequência dos pais nas reuniões e conversas com a escola é controlada. "Se não podem comparecer à reunião, marcamos um dia e horário em que eles consigam vir, mesmo que tenhamos de trabalhar além do nosso horário. Se não comparecem, utilizamos o mesmo procedimento adotado com as faltas dos alunos: três ausências, Conselho Tutelar", explica a coordenadora.
Ao mesmo tempo, a equipe da escola se empenhou em tornar a escola mais atrativa, para estimular a permanência dos alunos por mais tempo em suas dependências. Para isso, o Odorico Leocádio adotou duas frentes, a gestão democrática e as parcerias com órgãos públicos.
A gestão democrática convoca todos para opinarem sobre a escola e auxiliarem na elaboração das diretrizes anuais. Funcionários - desde quem cuida da limpeza, as merendeiras, professores até a direção -, pais e alunos podem opinar e sugerir melhorias para o ano seguinte. Os pais e alunos respondem a um questionário e participam de uma reunião geral para votarem o planejamento. "É um outro jeito de trazer os pais para perto da escola. Perguntamos sobre sua satisfação e a dos alunos em relação a vários aspectos da escola, como avaliam os professores, a coordenadora, a diretora. É bem democrático e abrangente", afirma Marisa. Além disso, na rede estadual do Mato Grosso, a comunidade escolar - funcionários, pais e alunos do 5º ao 9º ano - escolhe a diretoria da instituição. A gestão é de dois anos e o candidato pode ser reeleito uma vez.
Uma das sugestões dos pais que foi aplicada na escola foi a climatização das salas, antes mesmo da aprovação estadual de medida similar. "Nossa região é muito quente e seca. Os pais sugeriram a climatização da escola e com o dinheiro arrecadado na festa junina e de doações de alguns pais que possuem mais condições, conseguimos comprar equipamentos de ar condicionado para 70% das nossas salas. Isso interferiu diretamente na aprendizagem dos alunos", explica a diretora.
Os alunos também colaboram com ideias e execução de projetos, entre elas gincanas para os estudantes, programas de rádio e um jornal. Os dois primeiros já funcionam com envolvimento maciço dos alunos, só o jornal ainda está em avaliação, pois a escola estuda meios de viabilizar a elaboração do material. A rádio da escola é supervisionada pela coordenação e a programação fica por conta dos alunos e professores. Cada dia, uma turma diferente é responsável pelo funcionamento e programas, que têm notícias e músicas.
"Participei de todos os projetos da escola, que ajudaram a melhorar meu desempenho não apenas escolar. As gincanas, por exemplo, fizeram com que os alunos se integrassem, ficassem mais próximos", diz o estudante Lucas Souza, que cursa o 9º ano.
Alguns dos projetos são viabilizados por parcerias da escola. O programa Atleta Cidadão, feito junto com o Corpo de Bombeiros da cidade promove aulas de caratê para alunos e também é aberto para a comunidade. A escola também montou uma fanfarra, com instrumentos para a banda e aulas de música para os participantes, mantidas com verbas revertidas de penas alternativas aplicadas pela promotoria pública.
Há ainda dois projetos de incentivo à leitura, café da manhã das mães, gincana de matemática - com problemas do cotidiano -, oficinas de tamgram, e anualmente são trabalhados grandes temas para conscientização. "Ano passado fizemos sobre meio ambiente e sustentabilidade. Este ano trabalhamos a diversidade em um projeto que prevê a inibição do preconceito e agressões entre alunos", conta a coordenadora.
Rendimento escolar
No Estado do Mato Grosso, as escolas públicas obedecem à organização de ensino ciclado, que não reprova. Em vez disso, o aluno pode ter Progressão Simples (PS), que indica o desenvolvimento esperado para sua respectiva série, ou ser Promovido com Plano de Apoio Pedagógico (PPAP), que indica a necessidade de um acompanhamento pedagógico diferenciado numa sala de apoio, concomitante ao ensino regular - as articulações.
O programa de articulação é visto como carro-chefe da unidade. Toda escola no Estado do Mato Grosso possui articuladores, profissionais formados em pedagogia que retomam os conteú­dos dados em sala de maneira diferente, como um reforço. A articulação acontece no período contrário às aulas de cada aluno e o auxilia no processo de aprendizagem. Para reforçar a importância desses profissionais, a escola cobra como frequência normal a participação dos alunos que apresentam baixo rendimento nestas atividades.
Em 2008, o Odorico tinha 50% de seus alunos com rendimento classificado como PPAP, resultado da evasão escolar. Em 2009, com o início do plano de ação diferenciado, a porcentagem de PPAP caiu para 21,71% e em 2010 caiu novamente, desta vez para 20,8%. A meta para 2011 é de reduzir o índice de PPAP para 20%.
O trabalho baseado em parcerias, participação dos pais e envolvimento de funcionários e alunos também resultou em melhorias do Ideb.


A vanço conjunto
Ideb 2005 2007
Anos iniciais Anos finais Anos iniciais Anos finais
5 4,5 4,5 4,4
2009 2011
Anos iniciais Anos finais Anos iniciais Anos finais
6,7 5,3 6,7 5,4
Ações:
Elaboração de PPP e reformulação do regimento escolar
Acompanhamento das faltas de alunos realizado junto às famílias pela equipe da escola
Parcerias firmadas com órgãos públicos para proporcionar atividades extracurriculares atrativas aos alunos
Gestão democrática: alunos, pais e funcionários opinam, sugerem e elaboram projetos de melhorias
Edição 30
Janeiro 2013
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