março 31, 2012

Hábito de leitura cai no Brasil, revela pesquisa

Parcela de leitores passou de 55% para 50% da população entre 2007 e 2011. Até entre crianças e adolescentes, que leem por dever escolar, houve redução

 

Nathalia Goulart

Thinkstock

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O brasileiro está lendo menos. É isso que revela a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Ibope Inteligência. De acordo com o levantamento nacional, o número de brasileiros considerados leitores – aqueles que haviam lido ao menos uma obra nos três meses que antecederam a pesquisa – caiu de 95,6 milhões (55% da população estimada), em 2007, para 88,2 milhões (50%), em 2011.

A redução da leitura foi medida até entre crianças e adolescentes, que leem por dever escolar. Em 2011, crianças com idades entre 5 e 10 anos leram 5,4 livros, ante 6,9 registrados no levantamento de 2007. O mesmo ocorreu entre os pré-adolescentes de 11 a 13 anos (6,9 ante 8,5) e entre adolescente de 14 a 17 (5,9 ante 6,6 livros).

Para Marina Carvalho, supervisora da Fundação Educar DPaschoal, que trabalha com programas de incentivo à leitura, uma das razões para a queda no hábito de leitura entre o público infanto-juvenil é a falta de estímulos vindos da família. “Se em casa as crianças não encontram pais leitores, reforça-se a ideia de que ler é uma obrigação escolar. Se existe uma queda no número de leitores adultos, isso se reflete no público infantil”, diz a especialista. “As crianças precisam estar expostas aos livros antes mesmo de aprender a ler. Assim, elas criam uma relação afetuosa com as publicações e encontram uma atividade que lhes dá prazer.”

O levantamento reforça um traço já conhecido entre os brasileiros: o vínculo entre leitura e escolaridade. Entre os entrevistados que estudam, o percentual de leitores é três vezes superior ao de não leitores (48% vs. 16%). Já entre aqueles que não estão na escola, a parcela de não leitores é cerca de 50% superior ao de leitores: 84% vs. 52%.

Outro indicador revela a queda do apreço do brasileiro pela leitura como hobby. Em 2007, ler era a quarta atividade mais apreciada no tempo livre; quatro anos depois, o hábito caiu para sétimo lugar. Antes, 36% declaravam enxergar a leitura como forma de lazer, parcela reduzida a 28%.

À frente dos livros, apareceram na sondagem assistir à TV (85% em 2011 vs. 77% em 2007), escutar música ou rádio (52% vs. 54%), descansar (51% vs. 50%), reunir-se com amigos e família (44% vs. 31%), assistir a vídeos/filmes em DVD (38% vs. 29%) e sair com amigos (34% vs. 33%). "No século XXI, o livro disputa o interesse dos cidadãos com uma série de entretenimentos que podem parecer mais sedutores. Ou despertamos o interesse pela leitura, ou perderemos a batalha", diz Christine Castilho Fontelles, diretora de educação e cultura do Instituto Ecofuturo, que há 13 anos promove ações de incentivo a leitura.

Um levantamento recente do Ecofuturo revelou a influência das bibliotecas sobre os potenciais leitores. De acordo com o levantamento, estudantes de escolas próximas a bibliotecas comunitárias obtêm desempenho superior ao de alunos que frequentam regiões sem biblioteca. Nesses casos, o índice de aprovação chega a ser 156% superior, e a taxa de abandono cai até 46%. "Ainda temos uma desafio grande a ser enfrentado, já que grande parte das escolas da rede pública não contam com biblioteca." Uma lei aprovada em 2010 obriga todas as escolas a ter uma biblioteca até 2020. Na época, o movimento independente Todos Pela Educação estimou que, para cumprir com a exigência, o país teria de erguer 24 bibliotecas por dia.

A pesquisa Retrato da Leitura no Brasil foi realizada entre 11 de junho e 3 de julho de 2011 e ouviu 5.012 pessoas, com idade superior a 5 anos de idade, em 315 municípios. A margem de erro é de 1,4 ponto percentual.

 

In: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/habito-de-leitura-no-brasil-cai-ate-entre-criancas

Também em educação física, NE está atrás do Brasil

Ensino público

Metade das escolas das redes municipal e estadual da região não possui sequer espaço destinado à prática de exercícios. A médica nacional é de 30%

                                                                                                       Nathalia Goulart

 

Pesquisa inédita revela como é o ensino da educação física nas escolas públicas

Pesquisa inédita revela como é o ensino da educação física nas escolas públicas (Thinkstock)

 

Não é novidade que a região Nordeste apresenta índices educacionais alarmantes. Ao fim do 3º ano do ensino fundamental, ou seja, no período de alfabetização, 78,7% dos estudantes da rede pública ainda não dominam competências básicas de escrita.  Do ensino médio, 93,2% saem sem saber o que deveriam. Outro dado divulgado nesta quarta-feira, em São Paulo, reforça a distância entre as unidades públicas de ensino da região e do restante do Brasil (cujo desempenho, vale lembrar, também é sofrível): 51% das escolas das redes municipal e estadual do Nordeste não possuem um espaço destinado à prática de educação física. A médica nacional de escolas com essa deficiência é de 30%. Mais: 74% dos professores da disciplina que não cursaram a universidade atuam na região.

O levantamento Educação Física nas Escolas Públicas Brasileiras é resultado de uma parceria entre Ibope, Instituto Ayrton Senna, Instituto Votorantim e ONG Atletas pela Cidadania. Os melhores índices relativos a infraestrutura foram registrados na região Sul, onde apenas 11% das instituições de ensino não possuem espaço dedicado à educação física. No Sudeste, o número é semelhante: 14%.

"Apesar de o cenário ser otimista em algumas regiões do Brasil, ainda é alarmante a disparidade constatada", diz Ana Lúcia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro/Ibope.

Nas unidades localizadas em áreas urbanas, a falta de espaço atinge 19% das escolas, enquanto na zona rural chega a 50%.

Apesar da diferença de infraestrutura entre as regiões, a prática dos professores se revelou bastante similar. Dos 50 minutos de aula, apenas 58% do tempo – ou 29 minutos – é utilizado para atividades físicas propriamente. "O dado nos leva refletir sobre muitas hipóteses, como problemas de planejamento e metodologia ou a falta de equipamentos", diz trecho do estudo, que mostra que 13% das escolas públicas pesquisadas não possuem sequer uma bola de futebol, 45% não têm quadra poliesportiva e 56% não dispõem de vestiários.

Um das surpresas positivas da pesquisa é o percentual relativamente alto de professores com formação superior. Noventa por cento deles concluíram a graduação ou pós, em cursos de especialização e mestrado. Apenas 6% pararam no ensino médio. Entre os que chegaram à universidade, 83% se formaram em educação física, 13% em pedagogia, 4% em dança e outros 4% em gestão escolar. Outra surpresa: 74% se mostraram muito satisfeitos com a carreira.

Para Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna, o preparo e o entusiasmo dos professores são animadores. Contudo, cabe um alerta. "Infelizmente ainda temos dificuldades em transformar a motivação e o estudo desses profissionais em resultados concretos para o esporte e a educação do país. Não podemos nos focar apenas nos insumos, precisamos também colocar energia nos resultados", afirmou Viviane.

Ana Moser, uma das fundadoras da ONG Atletas para Cidadania, ressaltou que os eventos esportivos que o Brasil sediará nos próximos anos são uma oportunidade para discutir a qualidade da educação física na rede pública. "O esporte dentro do âmbito escolar ainda é um assunto pouco tratado e essa pesquisa vem para legitimar esse debate. Vivemos um tempo único para o esporte brasileiro e precisamos pensar no legado social que a Copa do Mundo e as Olimpíadas deixarão para o país."