abril 28, 2011

A função social da escola


O homem novo, aquele que se desenha nesse início de século XXI, enfrenta desafios que se mostram extraordinários – principalmente em países periféricos, quais sejam aqueles em que as condições estruturais agravam as questões metafísicas.
Dentre os problemas mais graves, dois se destacam no Brasil, principalmente por serem intercambiáveis: a violência urbana e a educação. Necessitamos então de alguns “olhares” que tornem possível a compreensão de sua natureza.
Primeiro olhar: ausência de ética, considerada como “conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade[i]”. Decerto, ainda que haja um flagrante aumento de religiosidade no país, com frequentes manifestações e assunções diversas, a progressão constante da violência, em todos os seus matizes, provoca desânimo e sensação de impotência.
Essa aeticidade se dá, entre outros fatores, por um recrudescimento de uma classe política distante da sociedade organizada – em que aparentemente a mudança da capital parece ter tido papel importante – com recorrentes escândalos de desvio de finalidade dos três poderes, em que a corrupção ganha destaque.
Além disso, uma mal compreendida liberalidade nas relações familiares provocou uma perda do princípio de autoridade, levando a um progressivo surgimento de gerações cada vez menos comprometidas com valores familiares, derivando para um descomprometimento geral com os valores da sociedade.
Um pouco além, a sociedade de inovação tecnológica provoca uma sensação constante de dejà vu, como se nada fosse anormal ou impossível. Isso leva, principalmente os jovens, a uma impressão de potencialidade máxima e, no limite, a certa irresponsabilidade: já que tudo é possível, todas as falhas podem ser, a bel-prazer, consertadas.
Segundo olhar: ausência de esperança.
Se a sociedade de inovação tecnológica, para além da sensação de dejà vu, consegue levar o homem a uma situação de progresso que atinge mesmo as classes menos favorecidas – e a expansão do uso de telefonia móvel é disso bom exemplo –, nem por isso foge à regra que estabelece que se todo mal traz algum bem embutido, todo bem traz também em seu bojo algumas mazelas.
As mazelas da sociedade tecnológica são visíveis e não poucas; a principal, porém, é a evaporação das vagas de trabalho (descontando-se aí as novas que surgem, mas trazem a exigência de qualificação que foge ao padrão dos países ainda atrasados, como o nosso).
Com a inevitável formação de um enorme exército de desempregados (ou subempregados), a conta tende a ser paga por aqueles que estão na base da formação de mão-de-obra, qual seja a dos jovens de classes menos favorecidas que, sem qualificação e sem experiência, terminam por se submeter à informalidade ou, no extremo, ao crime – organizado ou não.
Isso leva a um terceiro olhar: o da criminalidade crescente.
Mais preocupante até do que a sensação de aumento dos níveis de violência – note-se que os números oficiais indicam redução gradativa – é o fato de que a criminalidade se apresenta com forte indicativo etário: são os jovens, em sua maioria, que estão compondo essa parcela marginal da sociedade.
Dentre os jovens, e descomprometidos com a sociedade pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, os adolescentes têm formado outra mão-de-obra, base do crime organizado, e têm recheado as estatísticas da violência urbana. Afinal, difundiu-se o dogma de que aquele sujeito é praticamente inimputável, passível – mesmo nos casos mais extremos – de medidas socioeducativas que não correspondem à dimensão dos delitos que cometem.
Daí que a sociedade esteja amiúde acuada; e as famílias, reféns da ausência de ética que regula as relações sociais, estejam sem esperança. O reflexo é a violência, que se torna a ordem do dia: em uma sociedade de espertos, vence aquele que ousar mais, movimentar-se antes e usar toda malícia possível.
Chegamos então a um ponto fundamental: o da importância da função social da escola, tema desse artigo.
Não obstante a necessidade de políticas públicas de fortalecimento da família, com a possível formação de grupos de discussão das práticas cotidianas desse microcosmo, a escola comparece como um elemento essencial na formação plena do indivíduo.
Supomos que a escola do século 21 não pressupõe apenas o papel de espaço de ensino-aprendizagem; antes, está carregada de uma simbólica representatividade: é ali que o ser ganha dimensão, construindo sua personalidade, dotada ou não de plenitude.
É na escola que a criança se depara não apenas com rudimentos do saber, construindo competências e habilidades, mas antes adquire consciência de si mesmo, estabelecendo normas de participação na sociedade e de sua relação com o outro.
E por mais que esta seja uma figura que perde relevância (fundamentalmente por sua filiação a velhas práticas de uma escola ultrapassada), o professor ainda exerce uma influência que precisa ser devidamente dimensionada.
O professor, núcleo vivo e essencial da escola, serve de modelo e inspiração a meninos e meninas, e tão mais profundamente quão seja a menor idade de seus alunos.
Daí que a escola não possa prescindir de métodos de escolha e avaliação para composição de seus quadros.
O mau professor, qual seja aquele que literalmente enrola em suas aulas, acumula faltas, age rotineiramente de modo grosseiro e não demonstra apreço pelo que faz, indica ao seu discípulo que essa é uma prática aceitável.
Por isso, pretendemos que a escola do século 21 tenha em sua composição docente elementos que passem por rigorosas pré-avaliações, aquando de seu concurso para o magistério, e sejam constantemente avaliados em suas práticas.
A escola, como no poema de Alejandro T. Gomes, não pode perder de vista que é “honra do homem proteger o que cresce”; e a humanidade somente chegará a níveis bons de civilização quando souber criar as condições necessárias para constituição de sujeitos realmente plenos, dotados de ética, de esperança e sem qualquer liberalidade quanto à violência.
O professor, elemento-chave nesse processo, deve ter em vista que seu papel é determinante, que sua função social (que se confunde com a escola) é a de maior, inquestionavelmente maior, importância para a sociedade.
No momento em que a escola, organismo vivo dotado de um sentimento comum, e o professor, condutor de suas práticas, assumirem a grandiosidade de seu papel na construção de uma sociedade mais fraterna, justa, comprometida com a ética e repleta de bons valores morais e religiosos, teremos um tempo novo, com o homem do século 21 realmente se fazendo presente em nosso país.

[i] Cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

abril 22, 2011

A Escola (Paulo Freire)


"Escola é...

o lugar onde se faz amigos

não se trata só de prédios, salas, quadros,

programas, horários, conceitos...

Escola é, sobretudo, gente,

gente que trabalha, que estuda,

que se alegra, se conhece, se estima.

O diretor é gente,

O coordenador é gente, o professor é gente,

o aluno é gente,

cada funcionário é gente.

E a escola será cada vez melhor

na medida em que cada um

se comporte como colega, amigo, irmão.

Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’.

Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir

que não tem amizade a ninguém

nada de ser como o tijolo que forma a parede,

indiferente, frio, só.

Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, 

é também criar laços de amizade,

é criar ambiente de camaradagem,

é conviver, é se ‘amarrar nela’!

Ora , é lógico...

numa escola assim vai ser fácil

estudar, trabalhar, crescer,

fazer amigos, educar-se,

ser feliz."



de Paulo Freire

abril 03, 2011

Plantas Medicinais

Projeto desenvolvido na Escola Maria de Lourdes em 2010.